Expectativas

Querendo ou não, com mais ou menos consciência, temos continuamente expectativas.

É normal. É humano. Todos queremos ser felizes e seguros.

A questão é saber gerir o que acontece emocionalmente em nos quando elas não correspondem à realidade. Temos expectativas sobre o tempo atmosférico, sobre o tempo que demoramos a percorrer um caminho, quando seguimos uma receita… e até aqui acredito que seja mais fácil a gestão.

Provavelmente complica quando falamos de relações… quando eu faço o que faço, digo o que digo, esforçando-me para obter um comportamento específico do outro que é suposto apaziguar-me, reconhecer-me, fazer-me sentir aquela sensação de “missão conseguida”. A verdade é que do outro lado está um outro ser humano que vai interpretar, receber, sentir, e agir conforme a sua história, o estado emocional do momento, o cansaço…

Sobretudo se for uma criança (no primeiro setênio) sem a mínima preocupação de não corresponder às nossas expectativas. E daí vem por exemplo a frustração de uma mãe/pai que decide dedicar o fim de semana o filho, cheia de entusiasmo e ideias numa visão completamente cor de rosa em que a primeira “birra” vai logo desencadear queixas e um sentido de culpa na criança “porque eu desisti de tudo para ter esse tempo contigo e agora tu portas-te assim???”

Essa mesma situação não é tão rara acontecer entre um relacionamento entre dois adultos…que a frase seja verbalizada ou mantida em silêncio. Em quanto adultos é mesmo importante que aprendamos a lidar e gerir as nossas expectativas e as consequentes emoções. Estar atentos no que esperamos ter de volta em qualquer ação (sendo que a não ação também é uma ação). Quando nos ficamos na expectativa, acabamos por querer controlar o processo, como se fosse certo que a ação A vai fazer acontecer o facto B.

Ao tomar essa atitude, tiramos a liberdade ao outro de ser quem é, de nos deixarmos surpreender pela vida e tornamo-nos extremos calculistas, jogadores de xadrez da vida, em que vamos estudar todas as possíveis jogadas do outro antes de movermo-nos.

Estamos em esforço, rígidos.

Tiramos a magia da vida, o fluxo, tiramos a curiosidade, a flexibilidade, a surpresa. Tiramos a liberdade ao outro de ser quem é.

Eu procuro agir colocando INTENÇÕES.

E deixar as expectativas, ou pelo menos estar atenta quando elas estão presentes e ficar curiosa em quanto isso afecta o meu sentir e eventualmente o meu comportamento. A intenção tem a ver comigo, com os meus valores, com a minha verdade, com a consciência das minhas necessidades.

Ao colocamos uma intenção, automaticamente há uma responsabilização no que vamos fazer ou dizer. Não esperamos nada do outro e estamos abertos para receber o que vier, tendo sempre presente a nossa intenção, estando fiel a ela em qualquer ação que se segue. Se sentimos que estamos a afastar-nos dela ou já não está tão presente, precisamos de parar, de respirar, de nos alinhar, encontrar, enraizar, com gentileza. Para agir e não reagir.

Quando tomamos essa atitude frente a crianças, estamos a dar-lhe o exemplo mais libertador que possam ter. De deixar o outro em paz e de assumir as próprias responsabilidades e aprender a lidar com o que é no AGORA. E não no que foi, no que podia ter sido, ou no que poderá vir a ser. O agora é a única coisa que temos. É real. Não há expectativa no aqui e agora. É o que é. É preciso aprender a lidar com a realidade. Com a emoção que se sente no agora, que está presente no corpo e aprender a geri-la. No caso de estar a lidar com uma criança precisamos de a acompanhar com gentileza, curiosidade e compaixão nesse processo. ??

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