A educação baseada no medo não é educação. É ditadura.

Procurando no dicionário, ditadura é um regime governamental no qual todos os poderes estão concentrados em um indivíduo ou grupo. O ditador não admite oposição a seus atos e ideias, e tem grande parte do poder de decisão. É um regime antidemocrático no qual não existe a participação da população.

Até poucas décadas acreditava-se que as crianças fossem como “copos vazios” que o adulto tinha que encher com a educação. Isso justificou qualquer atitude em casa e nas escolas em prole do aprendizagem. Falta de respeito, ausência de empatia, arrogância, violência, um sentido de superioridade no adulto para com as crianças.

No filme histórico que a maioria de nos conhece “The sound of music” está representada esse tipo de educação no principio do filme, onde a única forma que o pai conhece de tratar os filhos é com autoridade e sem manifestação e ligação emocional.

Não podemos esquecer de onde vimos, e estas crenças podem ainda habitar em nos mesmo que de forma inconsciente..

“As crianças tem que saber que não são elas que mandam!”

“Uma chapada na hora certa faz milagres”

“Os meus filhos têm que saber que a vida não é um mar de rosas”

“Se não parares imediatamente com isso vais ver o que te acontece”

Etc etc..

Será?

Será que nos adultos “sabemos” mais?

Não serão essas palavras ditadas pelo medo? Medo de perder o controle, que a situação nos escape da mão, medo de não ter o respeito deles?

Não será uma repetição de padrões inconscientes?

Não será essa uma linguagem que vem das nossas feridas inconscientes?

Afirmações como esta guiam a parentalidade tradicional, ou seja uma parentalidade que educa de cima para baixo, baseada no medo.

Como que se educa através do medo? Com castigos (mascarados de consequências), com violência física ou emocional.

Quero aqui trazer a figura de um homem polaco, judeu que marcou com extrema coragem uma forma consciente de educar no principio do seculo XX…  Janusz Korczak – (1878 – 1942), foi um pediatra e pedagogo iluminado, que defendeu e criou os direitos das crianças (que foram depois declarados e aprovados pela Assembleia geral das Nações Unidas em 1989!!!)

Em 1911 fundou do Dom Seriot, um orfanato em Varsóvia praticava ideias inovadoras na educação baseadas no respeito e sobre qual atitude o adulto precisa de ter para com as crianças. Ele escreveu mais de vinte livros centrados principalmente nos direitos das crianças e na sua experiência de vida num mundo adulto. Os seus textos mais conhecidos são: How to Love the Child (1921), The Child’s Right to respect (1929) e Rules for Living (1930).

Citando-o:

“Dizes:

é cansativo estar com as crianças.

Tens razão.

Acrescentas:

porque precisas de te colocar ao nível deles,

baixar-se, descer, dobrar-se, fazer-se pequenos.

Estas errado.

Este não é o que custa mais.

É mais o facto de ser obrigados a elevar-nos

até a altura dos sentimentos deles.

De esticar-se, alongar-se, elevar-se

por-se em bico dos pés.

Para não os ferir”

Ele era um humanitário, apaixonado por melhorar a vida da geração futura através da educação, grande cuidado e profunda compaixão.

Temos que entender as crianças precisam e têm o direito de serem levadas a sério, e de serem tratadas com ternura e respeito.

Temos que permitir-lhe crescerem e serem quem quer que sejam.

“A pessoa desconhecida” dentro delas é a nossa esperança para o futuro”

Quando nos em crianças não fomos “vistos” e respeitados na nossa essência, essa mesma vai ficar confusa para nos próprios. Crescemos sem saber bem quem somos, a achar que devíamos ser o que esperassem de nos, sem empoderamento, dependentes  da aprovação dos outros para avançarmos ou fazermos o que quer que seja…

Agora, em 2022, não pode ainda haver duvidas que as crianças nascem inteiras!

Tu nasceste inteiro/a!

Nunca fomos copos vazios que necessitam que alguém preencha.

Há uma sabedoria interna em cada criança, a própria natureza, que se respeitada, guiada, suportada e valorizada vai dar maravilhosos frutos! As crianças querem crescer, aprender, ser capazes… Confiem em vocês, na vossa intuição e neles, juntos vamos mais longe!

Sabemos quão é desafiante a nível humano sair de uma ditadura… o medo habita em nos. O medo de fazer algo errado, do julgamento alheio, o medo até de pensar algo diferente…

A mesma coisa se aplica ao sair de um tipo de educação tradicional. Eu sei, é um desafio.

Se pensares em ti em criança, que tipo de cuidador precisavas de ter ao teu lado?

Sente.

Procura identificar as crenças que limitam essa possibilidade de ir ao encontro das crianças e liberta-te delas.

Devagarinho, com gentileza, podemos mudar a forma como educamos, a forma como nos relacionamos com as crianças, e outros adultos. Devagarinho, com gentileza, podemos mudar o mundo!

Todos nós temos direito de ser amados, acolhidos com gentileza, respeitados de igual forma, qualquer idade tenhamos.

Para poder construir relações baseadas no respeito e na colaboração, na compaixão.

Hoje abraça-te. Permite-te abraçar a criança que há em ti que talvez não tenha tido aquele abraço de que tanto precisava naquele momento. Ouve o que ela tem para te dizer.

Acredita, confia.

E sejas. Sejas o adulto do qual tanto precisavas.

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