Cada dia que passa apaixono-me mais pela adolescência e reconheço a urgente necessidade de compreensão dessa altura de vida tal fundamental, tão marcante, delicada e tão maltratada, desprezada.
Eu sei, é desafiante.
A criança querida e leve que queria estar sempre connosco, que nos abraçava e escrevia palavras de amor já não está, desapareceu. Na realidade ela está a transformar-se. E como cada processo de transformação, há uma crise, momentos em que nos sentimos perdidos, que não sabemos bem quem somos e onde vamos parar, em que nos vamos mesmo transformar…
Atrás de uma capa dura de irreverência, de arrogância (fragilidade disfarçada de segurança) estão seres humanos, jovens a precisar de ser vistos, amados e guiados.
Atrás de uma capa dura de irreverência, de arrogância (fragilidade disfarçada de segurança) estão seres humanos, jovens a precisar de ser vistos, amados e guiados.
Mas nós, adultos, limitamo-nos a ficar pela “capa superficial”, ficamos “preguiçosos”, julgamos baseados em crenças pouco informadas sobre essa altura de vida. E assim criticámos, castigamos, julgamos perdendo a enorme oportunidade de ver a vastidão do mundo e potencial que atrás dessa capa.
Vemos essa preciosa altura como se fosse uma doença, uma fase que se se pudesse evitar, evitaríamos.
São necessários genuína curiosidade, informação, conexão, empatia e limites para connosco e com eles para a enfrentar e para que ela traga a transformação que nos empodera enquanto adultos e que os empodera enquanto jovens.
Precisamos de amar além da compreensão racional. Precisamos de tornarmos-nos testemunhas atentas e contemplativas do processo.
A minha adolescência foi uma altura internamente muito desafiante e dura, em que fiz de tudo, à minha maneira, com as competências de adolescente, por ser vista.
Os meus planos para que isso acontecesse não correram assim tão bem.
Também para os meus pais foi difícil e cansativo, não me compreendiam e, devidos aos seus próprios medos, tentavam “controlar” dando-me ordens e castigos. Não me senti vista, mas sim inadequada, insuficiente, errada. Demorei muito tempo a ver e cuidar dessas minhas feridas profundas, com as quais ainda me deparo hoje em dia!
“A adolescência dá muito trabalho.” É o que eu mais ouço dizer. Eu sei.
Mas não é esse trabalho que escolhemos quando decidimos ser pais? Qualquer relação “dá trabalho” se queremos que ela floresça. Não dá para saltar as alturas mais desafiantes sem as enfrentar, vivenciar, pois são mesmo essas que fazem crescer (ou romper) uma relação. Temos tanta tendência para isso. Evitar, virar a cara, fingir, fugir, lutar.
O adolescente precisa de co-regulação, de ter ao lado adultos “montanha”, bem enraizados que os saibam ver e guiar, dançando entre liberdade, limite e respeito a partir de profundo amor e compaixão.
Eu sei, é desafiante. Mas também sei que val a pena. Se a enfrentarmos com curiosidade e consciência vamos aprender tanto…sobre nós e sobre eles!
Grazie Mia per Essere, pois sendo ajudas-me a conhecer-me cada dia mais um pouco. É uma honra ser a tua mãe.
Sei que mesmo com tudo o que sei, com todo o meu empenho vou errar algures…estou a aprender a ser mãe, a tua mãe, pois nunca o fui antes. Também sei que estou a fazer o meu melhor.
É um privilégio poder viver a adolescência desse lado do adulto, entre desafios, cumplicidade, enorme confiança, momentos de incertezas, risadas, insegurança, segurança, curiosidade e fronteiras bem claras.
De uma coisa estou certa: estou e vou estar aqui para ti.
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